domingo, 21 de julho de 2013

A história nos mostra que sempre houve o desejo, por parte de muitos homens, de viver em uma sociedade plenamente igualitária. A mesma história e a ciência, por sua vez, nos mostram que, os homens são diferentes por natureza, com características tanto genotípicas quanto fenotípicas próprias. Em face dessas diferenças, os homens têm capacidades e aptidões próprias, que os fazem, individualmente, diferenciar-se dos demais, impossibilitando a sustentação no tempo de uma igualdade presente.

Historicamente muitos homens, nos mais diversos períodos da civilização, viram-se seduzidos pela ideia do homem convivendo em condições de plena igualdade, nos mais diversos aspectos e, até mesmo, sem a necessidade de um poder estabelecido, de um governo.

Em consequência dessas diferenças, essa ideia se viu e se vê, cada vez mais, restrita ao campo das ideias, e, nos dias de hoje, representa uma utopia historicamente comprovada. Querer tornar iguais os homens, que a natureza os fez de forma desigual, é muita pretensão e, por ignorar a história e a experimentação, bem como não encontrar guarida na realidade, hoje pode ser tido como tolice.

Aqui mesmo, no Brasil, temos um exemplo disso, nos assentamentos decorrentes das desapropriações obtidas por meio das invasões e pressão do MST. Alguns “colonos”, já assentados, arrendaram ou venderam seus lotes de terra a outros assentados, fato que fez com que muitos voltassem à condição de sem-terra, outros permaneçam com seu lote original, enquanto vários restaram com um lote fracionado, e, em contrapartida, alguns com mais de um lote. Essa situação fez com que, atualmente, alguns assentamentos sejam de propriedade de uma só família, evidenciando a fragilidade, bem como a limitação temporal desse tipo de igualdade, mormente no caso em tela, que se deu entre indivíduos, supostamente, o mais semelhantes possível.  E ao longo da história, guardadas as diferenças inerentes ao tempo em que se deram, verifica-se, invariavelmente, essa dinâmica.

O século XXI é uma consequência vigente de situações que ocorrem em séculos anteriores. Há muito tempo, já havia a ambição e a vontade de querer mais, os mais aptos ou “espertos” sempre sobressaiam e conseguiam dominar o espaço e se apossar de bens materiais para dominar, de certa forma, a sociedade, visto que, aqueles que nada conseguiam tornar-se-iam subordinados, o que fez surgir primeiro o trabalho escravo, depois o trabalho assalariado. Nesse sentido, a cada dia é mais urgente a necessidade de dinheiro e poder para que o homem possa se sentir útil.

De acordo com Rubem Fonseca:

Existem pessoas que não se entregam à paixão, sua apatia as leva a escolher uma vida de rotina, onde vegetam como “abacaxis numa estufa d’ananases”, como dizia meu pai. Quanto a mim, o que me mantém vivo é o risco iminente da paixão e seus coadjuvantes, amor, ódio, gozo, misericórdia. Carrego um gravador a tiracolo. Apenas quero falar, e o que eu disser não será passado.  jamais para o papel, e assim não tenho necessidade de buscar o estilo requintado que os críticos tanto elogiam e que é apenas um trabalho paciente de ourivesaria.” (FONSECA, 1982, p.3).

Ser capitalista hoje é resultado de vários fatores, que nos transformaram em pessoas que colocam o capitalismo à frente do motivo que rege a felicidade, ou seja, ser feliz está ligado ao dinheiro. Em razão disso, muitas pessoas deixam de viver intensamente cada momento para viver só o trabalho, o dinheiro, que as faz, muitas vezes, incompreensíveis, insensatas e capazes de qualquer ação para adquirir mais e mais (leia-se ganância).

 E, assim vemos as datas, que outrora tinham um significado, mesmo que muitas vezes, pela evolução consuetudinária, não o precípuo, mas que nos aproximavam humana e espiritualmente falando, dando lugar às datas meramente comerciais. Datas que além de perderem seu “espírito original”, deram lugar a datas que podem gerar sofrimento, como por exemplo: um pai, menos favorecido de recursos, que no natal, ou no dia das crianças, não teve condições de dar aquele bem material que seu filho tanto queria (muitas vezes uma coisa extremamente simples e de baixo valor econômico, uma bola de futebol). Pois é justamente desse sofrimento, fruto da “necessidade” do bem material, que se denota a inversão de valores, onde o sentimento e espírito precípuos se veem suprimidos.

O que estão a fazer de suas vidas? Onde vamos parar? Será que o dinheiro é capaz de transformar a vida? 

Podemos até pensar que sim, mas muitos fatores negativos ocorrem por conta dessa dominação, é como se o próprio fosse “o rei dos reis”, constituindo um vício dominante na raça humana. É imprescindível repensar essa ótica da dominação, visto que o homem, como ser racional, vê-se cada vez menos humano, em decorrência da falta de consciência (pois vive em “modo automático”), da sua incapacidade ou, ainda, da indiferença e falta de vontade no sentido de viver de forma mais saudável e justa numa democracia capitalista, abrindo mão do individualismo exacerbado (leia-se egoísmo), o que é perfeitamente possível! 

Ser um capitalista estremado não é saudável para o indivíduo nem para a coletividade, pois aquele vive sem pensar nas consequências de juntar capital, apenas o quer e quanto mais, melhor, não importando se é demais e, muitas vezes, vê-se com tudo ou mais que um dia imaginara e, mesmo assim, não é feliz. Penso que esse último deve ser o maior sofrimento de todos, pois geralmente “nasce” meio que tardiamente ante a impossibilidade de voltar no tempo. Nesse sentido, sabiamente, com sua sensibilidade e ampla visão da vida, nos disse Dalai Lama:

“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde e, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.”

 Será que não é isso que torna a sociedade mais injusta e catastrófica? Se continuarmos a andar pela ótica de que “em um mundo capitalista, o dinheiro é fonte de tudo”, será crescente o número de amizades interesseiras e relacionamentos capitalistas a gerar uma bola de neve, em que todos os outros problemas sociais, que necessitam de justiça, humanidade e amor, ver-se-ão ignorados. Estamos cada vez mais sujeitos à futilidade a que nos propomos, basta analisar o individualismo, a falta de perspectiva em construir base, acomodar-se com o dinheiro já é suficiente, talvez esse seja o porquê de tantas tragédias numa sociedade, cada vez mais egoísta. Essa é a base para a felicidade? O dinheiro é a fonte de riqueza material, mas será de felicidade espiritual? Qual o verdadeiro motivo de um homem se tornar um ser tão capitalista? A sede de se tornar melhor que o outro gera um estado de "competição eterna”, o qual nega a solidariedade, que precisa ser repensado.

Ser humano é o início primordial, buscar viver intensamente o que a vida proporciona seria o mais sábio caminho, sem as velhas preocupações com problemas que nos tornam “máquinas destruidoras” da vida. O mundo pós-moderno é assim, repleto de jogos de interesse, quanto mais se tem mais se quer possuir, num ciclo vicioso, onde o dinheiro passa a ser visto como a fonte da vida. É inegável que o dinheiro é bom, visto que nos proporciona bem-estar e conforto, eu adoro! O problema surge quando, no afã da busca dos prazeres que ele nos proporciona, deixamos passar despercebidos prazeres infinitamente maiores, que dele independem, e nos tornamos dependentes, nascendo o “vício”, por meio do qual as pessoas contraem a, cada vez mais abrangente, depressão.

De certa forma, esse cenário que estamos vivendo, trás consigo uma revolta, onde as pessoas se “vendem” por uma “mixaria”, não sendo valorizadas como deveriam, pois a valorização do saber vai muito além do poder capitalista. Assim vemos profissionais das mais diversas áreas, como professores, por exemplo, muitas vezes pós-graduados, mestres, doutores e pós-doutores, que percebem remuneração ínfima quando comparada a alguns apresentadores de TV, jogadores de futebol e políticos, entre outros, muitos deles com formação básica, quando muito. Há uma inversão de valores muito grande que urge ser corrigida.

Por outro lado vejo, com tristeza, pessoas atacando o sistema capitalista embasados na sustentação de pretensos ideais socialistas, comunistas ou, ainda, e pior, anarquistas. Em pleno século XXI, em 2013, pessoas defendendo o socialismo e/ou comunismo, quando a história remota e recente nos trás “n” exemplos, todos, em última análise, com o mesmo resultado: sob “pretensa” intenção da plena e absoluta igualdade social, o povo se via em meio a uma sociedade injusta e pobre, onde só o ditador (e seus familiares e mais próximos) vivia com abundância de recursos, à custa de um povo pobre e sofrido, “nivelado para baixo”, sem valorização profissional, sem as perspectivas de crescimento que o capitalismo proporciona, e tolhidas de “n” direitos por força de um ditador. Sistema que já está mais que comprovado ser utópico, uma vez que, na prática, não se dá, nem de longe, tal como concebido no mundo imaginário fruto da idealização dos seus defensores.

Quanto aos defensores do anarquismo nem há muito que falar, pois o que pode resultar de uma sociedade vivendo conforme essa ideologia, que defende a possibilidade da existência de uma sociedade e, pior que isso, uma sociedade mais justa, sem a existência de leis e governo, senão um retrocesso ao estado de selvageria?

Entendo que o grande desafio e missão da nossa, e das futuras gerações, é achar um ponto de equilíbrio entre o ser, o ter e o viver. Para que assim, uma vez resgatados nossos valores, possamos viver inteligente, sadia e sabiamente o único modo que, no mundo globalizado que vivemos, entendo ser viável vivermos de maneira mais humana, justa e próxima, em sociedade, qual seja: o nosso sistema democrático-capitalista.

Pois bem, espero de coração, que minhas palavras tenham traduzido minha intenção e propósito e, mais que isso, leve-os à reflexão. Que possamos fazer nossa parte, procedendo às mudanças internas que se fazem necessárias, para construção de um novo mundo, mais justo e humano, onde as pessoas possam VIVER e não apenas sobreviver (quando assim conseguem, em face da triste realidade enfrentada por muitos).



Fernando Azeredo.

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